Rio
de Desejo
Desengano
- E aí, tudo bem?
- Olá!... Tudo bem...
Ela pergunta primeiro,
no reencontro casual. Na lembrança dele, aquela mancha, a calça molhada... Um Carnaval muito antigo, Av. Rio Branco,
segundo grupo...
Grandes, os seus olhos.
Os seios, relativamente menores. O rosto maravilhado, de quem aproveitava para
saborear, enquanto descobria, os prazeres do mundo. A boca sempre úmida, os
lábios carnosos... Lábios e olhos penetrantes, os seios amortecentes. O desejo,
mais que visível, tocável, oferecido mesmo... Mas não tocante, desagradável
até... No Carnaval da Rio Branco, para ele, com umas cervejas a mais, normal.
Não lhe seria insensível...
O encontro |
Na quina de um prédio eles se agarram, se esfregam, se conhecem por bocas
e mãos. Aquela mulher toda, o tesão dele se desenfreando... Pena que ela
estivesse de jeans: aumentava a fricção, mas dificultava o acesso. E pena que ele fosse quem
era...
Na Avenida, vem se
formando o desfile do bloco. Na quina do prédio, ele vai se desmanchando em
gozo. Para ela, dedos sem jeito no pano apertado, nada que fosse o bastante,
ele não conseguiu boa nota no quesito...
Não se viram mais,
difícil dizer quem não quis...
Até esta tarde, numa
Vara Cível, vinte, trinta anos depois...
Ela, enxuta, contida,
com, no fundo, a mesma volúpia. Agora, dentro de um vestido leve...
- E você, como está?...
Ele, talvez ansioso,
talvez confuso, se escolhe sincero. Respira fundo, ao fundo a própria história,
e, evadindo-se, assume:
- Continuo o mesmo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário