Rio de Ilusão
Torrando
- “Detesto o
verão do Rio!... Esse calorão!... Se eu pudesse, saía daqui em outubro, voltava
em abril!... Ia pra serra, prum lugar bem fresquinho!”. Cansei de dizer isso,
cara, durante anos, você deve ter ouvido...
Aí, você
pergunta, quê que eu tô fazendo aqui, em Ipanema, na praia, num domingo de
janeiro, desde o meio-dia até agora?... E (pior!...) usando esse ridículo
calção de banho, comprido que nem cueca samba-canção, todo esgarçado, puído e
ainda por cima apertado!...
Bem, esse foi o
que me restou... Logo eu, que estou mais branco do que vela. Se deixasse a
bunda de fora ninguém ia notar: é um branco só!... Pô, cara, ainda bem que eu
te vi aqui cuidando dessa barraca!
É pras crianças,
né?... O jeito é pegar carona, você não vai se incomodar... Também, é o último
lugar em que elas param!... Não saem da água, impressionante... Eu, quando eu
era garoto, também não saía da água. Hoje, o que me preocupa é o sol... Meu avô
parece que teve um câncer de pele e olha que na época nem tinha buraco do
ozônio... Cearense, muito branco, vai ver descendia de holandeses...
Eu costumava vir
à praia no final do expediente: chegava às quatro, saía às oito. Ah, pra isso o
horário de verão serve. Bati muita palma pro por-do-sol, caindo ali ao lado do
Dois Irmãos!... Tive época assim, enturmado. Já começava o verão na praia, ia
me queimando aos poucos. Ficava até moreninho, atraente...
Engraçado, nunca
saí acompanhado da praia... Rolava muita conversa, papo bobo, mas nas festinhas
é que acontecia qualquer coisa. Esse mulherio todo, as pernocas, os peitos, as
bundas de fora... Mulher demais acaba dando um certo fastio, né?... Por isto o topless
não pegou no Brasil.
Ah, mas também
quando você fica a fim... E tá me acontecendo agora, eu nem esperava mais!...
Tô é a fim dela!... Se não, mérmão, não estaria aqui, torrando...
Não sei por que
ela cismou de marcar comigo na praia... É garotona, tá acostumada. E sabe que
eu faço o que ela mandar, é... Mas não precisava me dar essa sacaneada...
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Torrando na praia – Ipanema, Rio – Aguinaldo Ramos, c. 1982 |
Quer saber?... Vou embora!... Não sou
tatuí!... Nem jacaré!... Se é pra levar bolo da gatinha, prefiro à noite, num
bar, tomando cerveja... Esquenta menos a cuca, num tô certo?...
Valeu, vou nessa!...
Um comentário:
É a cara mesmo do verão que estamos tendo que suportar! Parabéns!
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