quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Rio de Janeiro: Um Olhar Amoroso

Um Olhar Amoroso

 
- Hummm... Merecia uma foto!... Assim, nua, deitada na cama...  Sabe o que me lembra?... Uma visão, um panorama que conheço... Que também dá uma bela foto...
 - Hum?... Um visual?... Hem?... Qual?...
 - As montanhas do Rio de Janeiro!... Sabe como é?... Chegando de Petrópolis, vem vindo a estrada, reta. De repente, uma curva, uma descidinha... Aí, você dá uma olhada pro Rio. Um olhar abrangente, geral... Lá, nas montanhas, vê uma mulher, deitada... Em toda a sua extensão. Nua, linda... Igual a você, aqui, agora...
- Eu?... Hummm...
- É, você. Você olha para as montanhas do Rio e vê, à direita, o perfil da cabeça, os traços suaves do rosto, os cabelos ondulados. Assim, bem do seu jeito... Vai percorrendo o corpo com o olhar. Os seios... Lógico, assim de lado, só se vê um... Mas não dá para comparar!... Os dela são grandes, fartos, bojudos. Para você ter uma ideia, correspondem ao Pico da Tijuca...
 


- Sem dúvida, bem maiores que os meus...
- Outra escala... E os seus são muito mais acessíveis...
- Hum, tá!... Continua.
- Depois, o tronco. Quadris, coxas, joelhos, pernas... Tudo facilmente reconhecível no perfil das montanhas. Se o olhar não for amoroso, até pode-se achar defeitos, uma parte mais longa, outra mais curta... Daqui, por exemplo, olhando você, não vejo defeito algum...
- Sei... Um olhar amoroso... É, tá certo... Você também, sentadinho aí, até parece razoável... Se vier pra cama então, melhora um pouquinho... 
- Os pés... 
- Quê que tem os pés?...
- Você acredita?... Nesta mulher-gigante das montanhas do Rio, os pés são o morro do Corcovado!... Igualzinho!... Um aclive forma o peito do pé. Um corte abrupto, vertical, a sola. Claro, visto lá da Zona Norte... 
- Pois nunca imaginei... Já vi o perfil de rosto de homem lá na Pedra da Gávea, olhando da Barra, nariz adunco assim como o seu. Mas, tal figura, deitada por extenso no Rio... O Pão de Açúcar, afinal: fica fora dessa maravilhosa mulher da cidade?...
- Ah, o Pão de Açúcar fica bem em frente, firme, atento. No mesmo estado em que estou...
- Uau, estou vendo... Cresceu bastante seu interesse pelo assunto, não é?...
- Pois é... O Pão de Açúcar é assim mesmo, surpreende... A aparência varia, conforme o momento, a situação, o clima... Geralmente é visto ereto, empinado, desse jeito, como se estivesse a ponto de mergulhar na enseada de Botafogo, na baía de Guanabara... Lá de Niterói, das estradinhas que dão nos antigos fortes, pode-se vê-lo em toda sua pujança...
- É mesmo?... Tanto assim?...
- Bem, compreenda... O Pão de Açúcar é uma peça de granito sólido, não sei se é caso de comparar... Bastante volúvel, também. Em outros ângulos, outros momentos, se mostra recolhido, relaxado, pensativo até... E a sua imagem, talvez refletindo o espírito da cidade, vai, às vezes, a outro extremo. Visto do Corcovado, em meio à neblina do outono, parece mais... Um seio!... Um belo e apetitoso seio feminino, brotando por entre os lençóis de nuvens. Tem até um biquinho durinho, a estação do bondinho...
- É mesmo?... Algo assim?...
- Hum... Mais ou menos... Não tão suave, sem dúvida...
- Pena não tratarem sempre essa tão elogiada superfície com o devido respeito... Ou carinho... A energia, tão masculina, que construiu a cidade, muitas vezes foi prepotente, exagerada... Arrasou morros (e lá se foi o do Castelo), secou lagoas, cortou matas... E nem sempre se dividiu, entre todos, por igual.
- Sim, foram, e ainda são, tempos de estranhamento. Um lugar, por sua graça feminina, muito disputado. Um contato inicial complicado, o difícil aprendizado da convivência... Sempre o atrito entre essas duas rústicas naturezas, a terrena e a humana!... Agora temos, ao menos, que conservar o que resta. As árvores da Floresta da Tijuca, por exemplo... Ainda estão aí...
- Uma vasta, uma bela cabeleira... Que, um dia, chegou a ser desbastada. Que, agora, está novamente garbosa, renascida...
- A beleza sempre surpreende... Dá um jeitinho, capricha na maquiagem, faz uma plástica... É o caso do Aterro do Flamengo, que, de artificial...
- Faz, agora, parte da paisagem!...
- Exato!... E tem as curvas...
- Curvas?...
- Sim, as do Aterro, por exemplo!... Sensuais, langorosas... E as de Copacabana, de Ipanema, de São Conrado... Curvas que preenchem o olhar. Quem vê, quer logo acariciar...
- Estas, aqui, você pode...
- E sempre o coração batendo forte!
- Sim, o coração... Ah, tem que ser bem grande, para caber tanta gente... Um grande coração, como a Lagoa vista lá do alto!... Essa foto eu vi...
- Um coração forte, firme. Que é pra aguentar tantas batidas, tantos sustos, tanto maltrato... E acima de tudo generoso.
- A terra é fértil. Mesmo recebendo pouco amor, ainda assim acolhe... E retribui.
- E, com o tempo, cresce a admiração, a paixão vai aumentando...
- A vontade de ser feliz, a alegria de viver, o jeito leve de ser.
- Hum... Com toda essa conversa, você fica ainda mais aconchegante...
- Ah... Com toda essa história, você fica cada vez mais querido...
- Huuum, aqui estou eu, minha terra carioca!...
- Ah, sou toda sua, meu Rio de Janeiro!...

4 comentários:

Ana Regina M. Carneiro disse...

Adorei a leitura com as comparações. Perfeito! beijos. Ana Regina Carneiro

Anônimo disse...

Muito bom! Amei! Parabéns..

Enviado do Yahoo Mail no Android

Anônimo disse...

Valeu, Guina
Super simpático, parabéns!
abs, Marcos.
Buriti Sebo Literário / Carmo Virtual

Lidia V. Santos disse...

Bonito...