Um Olhar Amoroso
- Hummm...
Merecia uma foto!... Assim, nua, deitada na cama... Sabe o que me
lembra?... Uma visão, um panorama que conheço... Que também dá uma bela foto...
-
Hum?... Um visual?... Hem?... Qual?...
- As
montanhas do Rio de Janeiro!... Sabe como é?... Chegando de Petrópolis, vem
vindo a estrada, reta. De repente, uma curva, uma descidinha... Aí, você dá uma
olhada pro Rio. Um olhar abrangente, geral... Lá, nas montanhas, vê uma mulher,
deitada... Em toda a sua extensão. Nua, linda... Igual a você, aqui, agora...
- Eu?...
Hummm...
- É, você.
Você olha para as montanhas do Rio e vê, à direita, o perfil da cabeça, os
traços suaves do rosto, os cabelos ondulados. Assim, bem do seu jeito... Vai
percorrendo o corpo com o olhar. Os seios... Lógico, assim de lado, só se vê
um... Mas não dá para comparar!... Os dela são grandes, fartos, bojudos. Para
você ter uma ideia, correspondem ao Pico da Tijuca...
- Sem
dúvida, bem maiores que os meus...
- Outra
escala... E os seus são muito mais acessíveis...
- Hum,
tá!... Continua.
- Depois, o
tronco. Quadris, coxas, joelhos, pernas... Tudo facilmente reconhecível no
perfil das montanhas. Se o olhar não for amoroso, até pode-se achar defeitos,
uma parte mais longa, outra mais curta... Daqui, por exemplo, olhando você, não
vejo defeito algum...
- Sei...
Um olhar amoroso... É, tá certo... Você também, sentadinho aí, até parece
razoável... Se vier pra cama então, melhora um pouquinho...
- Os
pés...
- Quê que
tem os pés?...
- Você
acredita?... Nesta mulher-gigante das montanhas do Rio, os pés são o morro do
Corcovado!... Igualzinho!... Um aclive forma o peito do pé. Um corte abrupto,
vertical, a sola. Claro, visto lá da Zona Norte...
- Pois
nunca imaginei... Já vi o perfil de rosto de homem lá na Pedra da Gávea,
olhando da Barra, nariz adunco assim como o seu. Mas, tal figura, deitada por extenso
no Rio... O Pão de Açúcar, afinal: fica fora dessa maravilhosa mulher da
cidade?...
- Ah, o Pão
de Açúcar fica bem em frente, firme, atento. No mesmo estado em que estou...
- Uau,
estou vendo... Cresceu bastante seu interesse pelo assunto, não é?...
- Pois é... O
Pão de Açúcar é assim mesmo, surpreende... A aparência varia, conforme o
momento, a situação, o clima... Geralmente é visto ereto, empinado, desse
jeito, como se estivesse a ponto de mergulhar na enseada de Botafogo, na baía
de Guanabara... Lá de Niterói, das estradinhas que dão nos antigos fortes,
pode-se vê-lo em toda sua pujança...
- É
mesmo?... Tanto assim?...
- Bem, compreenda... O Pão de Açúcar é uma peça de granito
sólido, não sei se é caso de comparar... Bastante volúvel, também. Em outros
ângulos, outros momentos, se mostra recolhido, relaxado, pensativo até... E a
sua imagem, talvez refletindo o espírito da cidade, vai, às vezes, a outro
extremo. Visto do Corcovado, em meio à neblina do outono, parece mais... Um
seio!... Um belo e apetitoso seio feminino, brotando por entre os lençóis de
nuvens. Tem até um biquinho durinho, a estação do bondinho...
- É
mesmo?... Algo assim?...
- Hum... Mais
ou menos... Não tão suave, sem dúvida...
- Pena não
tratarem sempre essa tão elogiada superfície com o devido respeito... Ou
carinho... A energia, tão masculina, que construiu a cidade, muitas vezes foi
prepotente, exagerada... Arrasou morros (e lá se foi o do Castelo), secou
lagoas, cortou matas... E nem sempre se dividiu, entre todos, por igual.
- Sim, foram,
e ainda são, tempos de estranhamento. Um lugar, por sua graça feminina, muito
disputado. Um contato inicial complicado, o difícil aprendizado da
convivência... Sempre o atrito entre essas duas rústicas naturezas, a terrena e
a humana!... Agora temos, ao menos, que conservar o que resta. As árvores da
Floresta da Tijuca, por exemplo... Ainda estão aí...
- Uma
vasta, uma bela cabeleira... Que, um dia, chegou a ser desbastada. Que, agora,
está novamente garbosa, renascida...
- A beleza sempre
surpreende... Dá um jeitinho, capricha na maquiagem, faz uma plástica... É o
caso do Aterro do Flamengo, que, de artificial...
- Faz,
agora, parte da paisagem!...
- Exato!... E
tem as curvas...
- Curvas?...
- Sim, as do
Aterro, por exemplo!... Sensuais, langorosas... E as de Copacabana, de Ipanema,
de São Conrado... Curvas que preenchem o olhar. Quem vê, quer logo acariciar...
- Estas,
aqui, você pode...
- E sempre o
coração batendo forte!
- Sim, o coração... Ah, tem que ser bem grande, para caber tanta gente... Um
grande coração, como a Lagoa vista lá do alto!... Essa foto eu vi...
- Um coração
forte, firme. Que é pra aguentar tantas batidas, tantos sustos, tanto
maltrato... E acima de tudo generoso.
- A terra
é fértil. Mesmo recebendo pouco amor, ainda assim acolhe... E retribui.
- E, com o
tempo, cresce a admiração, a paixão vai aumentando...
- A
vontade de ser feliz, a alegria de viver, o jeito leve de ser.
- Hum... Com
toda essa conversa, você fica ainda mais aconchegante...
- Ah...
Com toda essa história, você fica cada vez mais querido...
- Huuum, aqui
estou eu, minha terra carioca!...
- Ah, sou
toda sua, meu Rio de Janeiro!...
4 comentários:
Adorei a leitura com as comparações. Perfeito! beijos. Ana Regina Carneiro
Muito bom! Amei! Parabéns..
Enviado do Yahoo Mail no Android
Valeu, Guina
Super simpático, parabéns!
abs, Marcos.
Buriti Sebo Literário / Carmo Virtual
Bonito...
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